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Uma das séries mais populares da Netflix, Bridgerton, está de volta em uma segunda temporada que cria expectativas, mas não as cumpre.
Bridgerton agora acompanha o irmão mais velho, Anthony Bridgerton, em sua missão de se casar e dar continuidade à sua família, como primogênito e herdeiro das funções patriarcais de seu cargo de Visconde. Eis que, em sua busca pela noiva perfeita, surgem as irmãs Kate e Edwina Sharma, novas participantes da “temporada” de bailes e que trazem o elemento do triângulo amoroso à nossa Londres fictícia. Como a possibilidade de discussão sobre deveres, sociedade e disputa de um amor poderiam dar errado em uma série novelesca?
Exatamente pela falta do principal mérito da primeira temporada: ritmo. A produtora Shondaland é especialista em séries com ritmo feroz, com vários ganchos, que são impossíveis de parar até que se acabe a temporada. Bridgerton em sua primeira temporada era rápida, com vários núcleos que traziam expectativa para resolução dos tropos a cada episódio e que deixaram um forte espaço para desenvolvimento nesta temporada. A descoberta de quem era a Lady Whistledown, o coração partido de Anthony e o destino da família Featherington eram fatores que geravam grande expectativa para debates e aprofundamentos.
Sobre o primeiro arco aberto para essa nova temporada, saber quem era a Lady Whistledown foi um problema. A corrida dos personagens para descobrir quem era não foi bem explorada, apenas no final tivemos uma resolução do caso, mas quem descobriu foi uma personagem tão óbvia que a primeira temporada poderia já ter trazido pistas sobre isso. Saber que a Lady é Penelope Featherington e que em momentos ainda utiliza a voz da Lady “oculta” é algo que não combina em si. Além disso, a Lady parece menos influente, a não ser no caso que leva à sua descoberta, o que abre uma possibilidade narrativa para a terceira temporada.
O arco do Anthony com as irmãs Sharma é um festival de possibilidades desperdiçadas. Em alguns momentos, tocam-se nos temas que são relevantes, mas os dilemas são tão arrastados que duram até o último episódio numa mesma dinâmica de triângulo amoroso proibido. Desde o início, sabemos da tensão entre Kate e Anthony, mas ele tem de pedir a mão de Edwina por ter sangue nobre, gerando uma disputa entre amor e dever tanto nele quanto em Kate. O dever dele é se casar com uma nobre perfeita e o dela é que a irmã tenha esse casamento com o melhor par possível para salvar a família. Já o drama de Edwina é estar nesse fogo cruzado e não ter exatamente o poder de escolha de seu destino, além da quebra de confiança em sua irmã.
Se essas questões fossem tratadas em 5 episódios e com menos enrolação, teríamos uma dinâmica interessante, que não pareceria arrastada e girando em círculos. Até as personagens da série se cansam de tanta tensão não concluída entre Kate e Anthony.
Aliás, outra expectativa frustrada para alguns é a falta de cenas mais picantes nessa temporada, um dos elementos que marcaram a primeira e que fizeram o “boca-a-boca” para que mais pessoas falassem e vissem a série. Curiosamente, as melhores cenas do casal principal são quando estão sozinhos, em seus dramas particulares, sentindo o peso de seus deveres em vez de correr para sua própria felicidade. Por fim, Anthony não tem o carisma do Duque, o que torna ainda mais difícil a missão de segurar a temporada como protagonista.
Já o drama da família Featherington em sua busca pela sobrevivência continua e traz o elemento interessante dos golpistas. A tentativa da família de dar golpes sobre pedras preciosas vindas da longínqua América é interessante, mostrando uma camada de que não existe santo nesse núcleo — apesar de ser possível simpatizamos por Portia, que tenta de tudo para salvar a pele e garantir o sustento de suas filhas. Esse núcleo mostra o elemento de falcatruas e a tendência a esquemas do jovem Colin Bridgerton, que talvez seja abordado em outra temporada.
Sobre a família principal, temos um destaque paralelo para Eloise. Novamente, a menina “contra os costumes” da sociedade é arrastada para uma nova trama de investigação sobre quem é a Lady Whistledown, tendo em vista que a Rainha suspeita que ela seja. Nesse meio tempo, ela se apaixona por um revolucionário/sindicalista na gráfica em que são impressos os folhetins da Lady e vive perigosamente, questionando ainda mais as tradições da coroa. O final do arco gera expectativa para a terceira temporada, mas sua construção poderia ter tido maiores impactos em seu desenvolvimento.
Em quesitos técnicos, Bridgerton continua sendo a fantasiosa Londres do início do século XIX, cheia de cores e vestidos. Assim como na primeira temporada, começa com tons claros e brilhantes e, à medida em que as tramas “engrossam” e se entrelaçam, temos menos brilho e as atuações com rostos mais sisudos e expressões graves. Vale realizar essa comparação assistindo ao primeiro e penúltimo episódios. Aliás, sobre atuações, não temos grandes destaques, já que a ideia é permanecer na caricatura. Talvez a única exceção seja da Simone Ashley, que interpreta a Kate, que traz expressões fortes e se adequa muito bem ao que é dado à personagem.
A segunda temporada de Bridgerton sofre por parecer (e até ser) uma temporada de transição. Precisa criar arcos próprios, mas, em essência, seu propósito é dar continuidade ao que foi terminado na primeira parte. Sobre a trama em si e os conflitos do reino, pouco se evolui, tendo uma conclusão apressada nos episódios finais. Se na primeira temporada você perdia o sono para terminar rápido, nessa você terá de lutar contra ele para seguir. Vamos ver se na terceira, com foco em Benedict e com uma trama de Cinderela, teremos uma evolução. O que posso dizer é que, para a minha surpresa, o Duque fez falta.
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