Everyday Life é o oitavo álbum de estúdio da aclamada banda britânica Coldplay, lançado em 22 de novembro de 2019. É um álbum conceitualmente duplo, mas em apenas uma mídia, e as duas partes se chamam respectivamente Sunrise e Sunset. Como sempre, a banda saiu da casinha, modificando completamente o tom das suas composições. Desta vez, traz temas muito mais politizados e aborda questões que vivemos atualmente: preconceito, flexibilização das armas, imigração, religião, entre outros. Também explora novos conceitos musicais que eles não tinham apresentado anteriormente.
A faixa inicial da parte Sunrise, de mesmo nome, é instrumental. Composta unicamente de um arranjo de cordas, ela traz leveza, no sentido de contemplar esse momento que eles reverenciam no nome da faixa: o nascer do sol.
A segunda faixa, Church, traz uma letra voltada para a religião, exaltando a existência de uma força ou entidade superior que leva à leveza e que traz tranquilidade. Uma marca dessa música é a presença de uma cantora árabe que entoa um canto-oração a Allah. A melodia leve acompanha a letra e o violão é marcante.
A terceira faixa, Trouble in Town, começa com uma pegada mais pesada, e a transição da música anterior para essa é parecida com uma troca de disco. Aqui, entramos em uma crítica social mais pesada. Essa música aborda diretamente o preconceito contra a liberdade de expressão da sua própria cultura, ideia evidenciada pelo verso “My sister can’t wear her crown” e por uma gravação de uma abordagem policial preconceituosa, também incluída na faixa. No final, uma referência a Mandela em sua língua natal. O instrumental acompanha e dá força à letra com piano em tom grave, baixo muito presente, riffs de guitarra e bateria que vai aumentando sua cadência durante a música.
A quarta faixa, BrokEn, traz mais uma vez leveza à obra. Essa música sem sombra de dúvidas me abraça. É uma composição de piano com um coral bem semelhante a um coral gospel, e aborda novamente a questão religiosa de devoção a um ente superior (nesse caso, um “Lord”). A letra pede que ele brilhe sua luz em nós.
A quinta faixa, Daddy, a mais melancólica das letras desse álbum, deixa The Scientist no chinelo. Nessa canção, temos uma criança que sofre a ausência do pai que não está com ela. O piano presente em toda a melodia e a letra falam por si.
A sexta faixa, WTOW/POTP, é a menor faixa e minha preferida. O título é uma abreviação de Wonder Of The World/Power Of The People. A letra questiona como num mundo maluco eu posso me manter forte. Que nossa fé deve ser forte. Ela é acústica, tem somente um violão, e serve de abertura para umas das músicas mais “O que eles fizeram aqui?” do albúm.
A sétima faixa, Arabesque, é uma das maiores do CD e uma das mais diferentes de tudo que o Coldplay já fez. Com uma letra muito poética sobre termos o mesmo sangue, apenas sermos dois ângulos de uma mesma vista, “somos todos iguais” é a mensagem dessa música. Ela traz participação de Stromae, cantando em francês, e participação de Femi Kuti e sua banda de sopro, que trazem uma sonoridade incrível para essa música.
A oitava faixa, When I Need a Friend, a última dessa parte, traz mais uma vez a religião em pauta. Com um órgão e um coral, é pedido para que o sagrado desça e nos defenda quando precisamos de um amigo. Após a letra, existe um trecho retirado de uma entrevista com um hondurenho, que fala sobre o impossível.
Entre as duas partes, na versão física existe apenas um interlúdio de sinos batendo com sons de aves, que leva o nome de GOD=LOVE.
A primeira faixa da segunda parte, Sunset, se chama Guns e traz uma crítica à flexibilização de acesso às armas. Com uma melodia majoritariamente no violão, a música questiona se está tudo meio louco.
A segunda faixa, Orphans, é uma balada que, apesar de melodicamente mais divertida, não perde o peso crítico. Ela fala da guerra e dos órfãos que deixou, e eles como jovens se questionam quando vão poder sair e se divertir com os amigos. Eles estão trancados em casa “com bombas fazendo boom ba-boom-boom”.
A terceira faixa, Èkó, fala de um sonho de um jovem africano enaltecendo as belezas do seu continente e sonhando com uma linda esposa. Apesar de eu não gostar desse empacotamento de África como uma coisa só, a letra, em união com a melodia, transmite a leveza de um sonho. A tranquilidade de uma mãe colocando seu filho para dormir.
A quarta faixa, Cry Cry Cry, evoca uma atmosfera de um baile dos anos 1950 e retrata o amor simples que quer proteger àquele quem ama. Mais uma vez, um coral se faz presente, auxiliando na atmosfera desejada pela música.
A quinta faixa, Old Friends, é uma música acústica que o Chris Martin fez em homenagem a um amigo seu que morreu. Ela é tocada por Chris e Jonny, que são muito amigos, e fala de amizade e da falta de um amigo que partiu. Quem já sentiu essa dor sabe que não é tão simples.
Na sexta faixa, Bani Adam, mais uma vez eles saem da caixa. Ela é a musicalização de um poema do iraniano Saadi Shirazi e fala sobre a criação e como os seres humanos fazem parte de um todo e vivem no mesmo mundo, como todos somos cidadãos globais.
A sétima faixa, Champion of the World, é, como a banda descreve, um hino dos fracassados. Ela traz uma mensagem de persistência e de que você vale a pena. Não se compare aos outros, você tem seu potencial.
A oitava e última faixa, Everyday Life, encerra o álbum com o seu nome, trazendo o caráter cíclico da vida cotidiana. Ciclos. Coisas que todos nós fazemos. Essa canção reverbera todo o tom da obra de que devemos mudar nossa visão: do lado está alguém de quem gostamos, um irmão, não um inimigo. Encerra o álbum com chave de ouro entoando “Hallelujah”.
Everyday Life faz o que o Coldplay se propõe a fazer da melhor forma: tentar fazer diferente, tentar ser presente, e fazer com que sua música não seja só música, mas traga uma ideia mais forte do que a banda quer para o mundo. Esse álbum experimenta, busca novas fontes e não repete nenhuma fórmula de fazer música. Os álbuns do Coldplay são obras primas de música de qualidade e esse não poderia ser diferente.
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