Uma das surpresas mais positivas do ano foi Dali and the Cocky Prince (chamado em alguns lugares apenas de Dali and Cocky Prince), um drama sobre arte, família, dinheiro e gamjatang.
Kim Da-li (Park Gyu Young) é filha de uma família rica e seu pai é responsável pela galeria Cheongsong, uma das mais respeitadas de Seul. A jovem é apaixonada por arte e inclusive estuda História da Arte na Holanda, onde mora sozinha. Ainda lá, uma confusão no aeroporto faz com que ela conheça Jin Moo-hak (Kim Min Jae), diretor de uma rede de restaurantes. Impulsivo e obcecado por dinheiro, ele começou muito jovem como vendedor ambulante e vem de uma família que cresceu do zero.
Enquanto estão na Holanda, eles se aproximam. Mas a súbita morte do pai de Da-li faz com que ela volte para a Coreia em uma situação muito diferente da qual saiu: diretora interina da galeria e herdeira apenas de uma série de dívidas. E um de seus maiores credores é justamente Moo-hak, que tinha emprestado dinheiro à galeria alguns meses antes por influência de seu meio-irmão e vai fazer tudo o que puder para recebê-lo de volta.
Ao mesmo tempo em que Dali and the Cocky Prince mistura vários clichês, também é muito único. Da-li é uma das personagens mais elegantes que já vi — em tudo, desde a postura física até o tom de voz. Ela sempre foi rica e não tem muita noção de como lidar com a posição de gestora de uma galeria de arte cheia de dívidas. Mas ela também não tem medo de tentar, consegue se impor com a maior classe do mundo e faz o que for preciso para se recuperar, incluindo vender sua mansão e morar em um cantinho da casa de um amigo, sem nunca abrir mão do valor da arte e de seus princípios. É uma personagem extremamente forte, mas sem ser “masculinizada” para passar essa ideia de força. E Gyu Young foi perfeita no papel. Toda vez que vejo um drama com a atriz, ela se transforma em relação ao anterior, e aqui aconteceu exatamente isso.
Um ótimo exemplo é a relação da protagonista com seu ex Jang Tae-jin (Kwon Yool), um personagem que consegue se superar a cada episódio da pior forma possível. Mesmo sendo o único responsável pelo término horrível do relacionamento, Tae-jin volta a investir e tenta se aproximar de Da-li após a morte do pai, mas ela sabe muito bem pelo que passou e sabe que merece mais. Algumas prévias ainda nos fazem pensar que os planos dele podem dar certo, mas isso seria até pouco característico para a personagem de Da-li, construída para não ceder a eles.
Não fazer com que a relação dos dois seja o foco na maior parte do tempo é um grande acerto de Dali and the Cocky Prince, até por sempre priorizar o tom de comédia sobre o drama. Em vez disso, um personagem que recebe destaque é Joo Won-tak (Hwang Hee), que funciona tanto como elo entre os dois protagonistas quanto como parceiro fiel. O policial é amigo antigo de Da-li, quase como um irmão mais velho, e carrega grande consideração pelo pai dela, que o ajudou a encontrar um rumo na vida há muitos anos. Ele também aluga um puxadinho na casa de Moo-hak, e precisa esconder de seu senhorio avarento que está abrigando a amiga. A relação entre os três é um dos pontos mais altos do drama.
E Moo-hak tem uma construção interessante que fez dele um dos meus personagens favoritos do ano. Inicialmente apresentado como alguém que só se preocupa com dinheiro, ele até conta todos os gastos em unidades de gamjatang, o prato carro-chefe de seu restaurante. Mas mais camadas vão se revelando à medida que o drama explora melhor a construção da família dele, completamente quebrada e fútil, e ele próprio percebe que quer ser diferente. É aí que ele começa a mostrar o coração enorme que tem, muito por conta de sua falecida mãe. As expressões faciais dele têm ainda um quê do Min-hyuk, personagem de Park Hyungsik no icônico Strong Woman Do Bong Soon — outro drama cujo gênero predominante é a comédia. Arrisco dizer que, se você gostou de um, há grandes chances de gostar do outro também.
As tramas principais são o romance entre Da-li e Moo-hak e a constante ameaça externa à galeria Cheongsong. Não é uma ameaça física, como de um ataque violento, mas parece que há muitas pessoas interessadas em ver a galeria falir e ser apropriada pelo governo ou comprada, e elas estão dispostas a qualquer coisa para sabotar o sucesso de Da-li. Uma dessas pessoas, a primeira que conhecemos, é o primo mais velho de Da-li, Kim Si-hyung (Lee Jae Woo), um homem preguiçoso e mimado que queria ter status e uma vida fácil. Ele acha que a galeria e as coisas boas que viriam com ela deveriam ser suas por direito, já que é o descendente homem mais velho da família.
Então, ao se envolver financeiramente com a galeria, Moo-hak também se encontra no meio desse problema. No início desse envolvimento, ele se sente traído e “roubado” por Da-li, tirando um pouco do encanto de quando os dois se conheceram na Holanda. Mas eles precisam trabalhar juntos para um objetivo comum e ela, como diretora, é o maior alvo das tentativas de sabotagem, o que o ajuda a se aproximar e perceber a sinceridade dela. Esses dois juntos são meio que imbatíveis. É maravilhoso de acompanhar.
Arcos secundários de Dali and the Cocky Prince também abordam laços de sangue, relações familiares complicadas e a questão da adoção, presente em mais de uma das famílias que acompanhamos. Alguns personagens acreditam que o sangue seja o mais importante, outros abusam de seu poder por motivos egoístas, e outros só querem saber de levar vantagem. Já outros, como Moo-hak, Da-li e o sr. Kim, pai de Da-li, não fazem distinção: a família “agregada” e a “de sangue” têm o mesmo valor e são dignas do mesmo afeto. Isso nos aproxima ainda mais deles.
Outro destaque vai para a atuação de Hwang Bo-ra, que mostra mais uma vez sua versatilidade no papel da guarda-costas/assistente de Moo-hak. Se você só a conhece por What’s Wrong with Secretary Kim?, prepare-se para o choque.
Com suspense, romance, arte, intrigas de gente rica e muita comédia, Dali and the Cocky Prince foi um dos dramas mais divertidos do ano. Os 16 episódios de 1h foram exibidos entre setembro e novembro e estão disponíveis no KOCOWA ou com a assinatura Plus do Viki.
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