Elisa e Marcela é um filme baseado em fatos reais produzido pela Netflix e dirigido pela cineasta espanhola Isabel Coixet. Ele trata de uma história de amor entre duas mulheres que viveram entre os séculos XIX e XX na Galícia, região noroeste da Espanha. Ambas se conheceram numa escola para professoras e, algum tempo depois, Marcela (Greta Fernández) foi enviada para um internato em Madri, mas continuou trocando correspondências com a sua amada Elisa (Natalia de Molina).
Por conta da temática e por ser rodado inteiramente em preto e branco, o filme demorou mais de dez anos para encontrar alguém que o apoiasse até, por fim, chegar à Netflix. Ele foi filmado em quatro semanas. Outros filmes completamente em P&B, como Roma e Guerra Fria, vêm mostrar que a opinião a respeito desse tipo de película pode estar mudando. A história delas está registrada no livro Elisa y Marcela – Más Allá de los Hombres (Elisa & Marcela – Além dos homens, sem lançamento no Brasil), escrito por Narciso de Gabriel, um estudioso do caso.
Após retornar de Madri, Marcela vai lecionar na mesma escola que Elisa e elas vivem juntas por um bom tempo, mas logo os olhares desconfiados dos vizinhos começam a incomodar. Em um plano mirabolante, Elisa se passa por Mario, um primo falecido, e se casa na igreja com Marcela, como homem e mulher, no ano de 1901. (O casamento homoafetivo só foi legalizado na Espanha em 2005, faça as contas.) A fraude foi descoberta, mas o matrimônio nunca foi anulado, ficando para a história como única união lésbica celebrada pela Igreja.
O filme é simplesmente lindo, do começo ao fim. A fotografia é surpreendente, delicada, linda e extremamente sensível à história. O motivo pelo qual foi tantas vezes recusado – ser em preto e branco – confere à película ainda mais sensibilidade e proporciona a imersão na história, que se passou há mais de 100 anos. A maneira como a trama é conduzida leva o telespectador a mergulhar nela, se alegrar e sofrer junto.
Além disso, as cenas de sexo demonstram muito mais do que isso, elas apresentam intimidade e amor. Aqui, o fato de a diretora ser uma mulher faz toda a diferença. Não são cenas feitas para agradar aos homens, mas puramente para retratar a consumação do amor entre duas mulheres. (Lembra das polêmicas envolvendo Azul é a cor mais quente? Pois é.)
Ambas as atrizes estiveram impecáveis em cada cena, a atuação é comovente e sincera e nos dá, mais que prazer, esperança naquilo que há de mais puro no amor. São duas mulheres se descobrindo em sua sexualidade num tempo em que não havia referências, por assim dizer, do que fosse uma relação lésbica. Para as cenas com o polvo e as algas, Coixet utilizou algumas referências de pinturas da época, como as obras de Katsushika Hokusai.
Elas chegam a ser presas em Portugal por conta da fraude, onde Marcela dá à luz sua filha. Outro casal à frente de seu tempo – um homem branco e uma mulher negra – as ajuda a fugir sem que sejam deportadas e adota Ana (Sara Casasnovas), a filha delas. Elisa e Marcela é um filme dramático e triste, mas muito bonito, em que o amor, com um pouco de sorte, vence qualquer obstáculo.
Curiosidade: As cartas que elas leem uma para a outra enquanto Marcela está em Madri foram escritas pelas próprias atrizes. Elas disseram que isso as ajudou a internalizar melhor o sofrimento e o amor vivido por suas personagens.
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