A mais nova animação infantil do estúdio Pixar foi disponibilizada no catálogo do Disney+ no último final de semana. Luca é um filme criado por Simon Stephenson (Paddington 2) e Enrico Casarosa, o mesmo diretor de Up: Altas Aventuras (2009) e Os Incríveis 2 (2018) — e agora Luca. O roteiro é assinado por Jesse Andrews (Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer, 2015; Todo Dia, 2018) e Mike Jones (Viva: A Vida É Uma Festa, 2017; Soul, 2020).
Já as vozes dos personagens carismáticos e relacionáveis ficaram por conta dos expressivos Jacob Tremblay (O Quarto de Jack, 2015; Extraordinário, 2017), Jack Dylan Grazer (It: A Coisa, 2017; Shazam!, 2019) e Emma Berman, uma estreante. Eles são Luca, Alberto e Giulia, respectivamente.
Na história, ambientada na Riviera Italiana, Luca e sua família vivem vidas tranquilas de simpáticos “monstros marinhos” longe das ameaças dos humanos. Mas de monstruosos eles não têm absolutamente nada. São meras criaturas fantásticas com escamas e caudas, híbridos de seres humanos e peixes. Não chegam a ser sereias, tampouco colapesces, mas seres capazes de assumirem a aparência humana quando não estão em contato com a água.
Como acontece com toda criança, humana ou não, o desejo de Luca por aventura se acende no momento em que ele encontra objetos misteriosos vindos da superfície e conhece Alberto, um aliado destemido disposto a prová-lo que a vida em terra firme é tão divertida quanto no fundo do Mediterrâneo. A partir dessa amizade, eles vão descobrir juntos o verdadeiro mundo que sempre os rodeou.
No decorrer da trama, a amizade, comprometimento e busca por realização pessoal vão sendo apresentados como temas principais do filme. A evolução do roteiro, responsável por nos mostrar o crescimento interpessoal dos personagens, é consistente o suficiente para deixar nítido que a ligação entre os meninos, Luca e Alberto, é a mais genuína possível. Ver o avanço do descobrimento desse sentimento fraterno, que às vezes te faz sentir ciúmes ou receio, é algo emocionante e se estende até a chegada de Giulia na trama.
Diante das questões que cada personagem carrega até a conclusão da animação, o que mais chama a atenção é a forma como as metáforas de exclusão humana e a aversão ao desconhecido são usadas. Como adulto, identificar os eufemismos e até entender o que cada criança está sentindo pela primeira vez faz com que a animação se mostre atual e necessária. Aliás, não só as crianças, como também os habitantes daquele litoral italiano.
É quase uma regra invisível da Pixar usar o seu alcance midiático como propagador de reflexão e crítica construtiva para um público que começa a criar sensos importantes para o seu crescimento. Vemos isso nas alegorias de temas sociológicos como a revolução de classes em Vida de Inseto (1998), crítica ao avanço desenfreado da tecnologia e esgotamento dos recursos naturais em WALL·E (2008) e a evolução psicológica e emocional de um indivíduo em Divertidamente (2015). Talvez Luca seja uma forma de linguagem acessível para transmissão da mensagem “é perfeitamente comum ser diferente”.
A ficha técnica não desaponta, assim como as interpretações vocais dos atores responsáveis pelo tom palpável do longa. Os traços modernos de animação de terceira dimensão e o realismo das texturas são incrivelmente estonteantes, característica do Casarosa desde Os Incríveis 2 (vide aquela famosa imagem da camisa Polo do Sr. Incrível). O cuidado com cada camada deixa as cores concretas e abstratas ainda mais interessantes.
Luca é um filme infantil, mas isso não me impediu de derramar uma lágrima ou outra. Não foi culpa do diretor se eu consegui me relacionar com a história. Convide meia dúzia de crianças como desculpa para assistir a mais essa aposta assertiva da Disney, e aposto que você também vai se apegar a pelo menos dois personagens.
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