Nos Estados Unidos da década de 1950, Bobby Fischer (Tobey Maguire), um garoto aficionado pelo jogo de xadrez, começa a ganhar notoriedade nacional e se torna um dos jogadores mais promissores do período. Todavia, com a Guerra Fria em andamento e a superioridade soviética no esporte, o que estava em jogo não era apenas o orgulho dos jogadores, mas dos regimes socioeconômicos/políticos vigentes.
Pawn Sacrifice foi lançado no Brasil como O Dono do Jogo, no entanto seu título original (“sacrifício dos peões”) representa muito melhor a ideia do filme. Afinal, se considerarmos a Guerra Fria como um grande jogo de xadrez entre americanos e soviéticos, os jogadores retratados no longa seriam justamente os peões, peças mais limitadas e, portanto, facilmente descartáveis.
Edward Zwick (Diamante de Sangue e O Último Samurai) teve sob sua direção um bom elenco e uma história interessante a ser contada. A analogia com os peões, porém, não se aplica unicamente aos personagens, mas também aos atores, que, apesar de entregarem boas atuações, deixam a nítida impressão de que atuaram aquém das suas capacidades.
É o caso de Liev Schreiber, que encarna o russo Boris Spassky, arquirrival de Bobby. Além de ter uma participação limitada na trama, o desenvolvimento da história de seu personagem deixa a desejar. Ele perde a oportunidade de abordar com maior profundidade o ponto de vista de alguém que é tão pressionado a vencer quanto Fischer, mas que consegue encarar a situação com um nível relativamente superior de sanidade.
Já em relação a Tobey Maguire, sua interpretação, apesar de bastante convincente, não acrescenta muito ao perfil do “gênio incompreensível” tantas vezes retratado nos cinemas, levando a crer se tratar também de um problema do roteiro. Por outro lado, um aspecto interessante e acertado em torno do seu personagem é a forma como o filme evidencia a influência da sua mãe em suas atitudes, até mesmo na idade adulta, mostrando como isso se refletia nas suas partidas de xadrez.
O roteiro mostra o suficiente da infância de Bobby e apresenta brevemente alguns anos que se seguiram, acompanhando sua trajetória como jogador. Depois, mergulha de vez no campeonato de 1972, que foi um marco na história do esporte e, especialmente, na história do protagonista, pois abrangeu tanto a sua ascensão na vida profissional como o seu definhamento.
Contudo, ainda que O Dono do Jogo se trate de uma biografia, com foco na vida pessoal do Fischer (o que já é bastante interessante), acho que o filme deveria ter mostrado mais das partidas em si. Apenas um público restrito é capaz de assimilar as jogadas que foram utilizadas, o que não estimula a empolgação que grande parte dos espectadores poderia ter em momentos decisivos.
É evidente que alguém que nunca jogou uma partida de xadrez provavelmente não entenderia todas as jogadas mostradas em tela. Porém, se o longa continuasse a exibir “simulações” do jogo, como fez em uma cena da infância do protagonista – ou como foi feito pela série O Gambito da Rainha –, teria tornado as partidas compreensíveis e dinâmicas para um público mais amplo.
Além disso, achei interessante a tentativa da produção de “mesclar” cenas atuais com entrevistas antigas, como forma de ser o mais fidedigna possível ao material original, sem desorientar o espectador. Ocorre que, para alcançar o objetivo desejado, os idealizadores do projeto precisariam ter investido um pouco mais nos efeitos visuais dessas cenas, de maneira que o espectador conseguisse manter sua atenção na história, em vez de distrair-se com a tela verde atrás de Tobey.
Por fim, mesmo com tantas observações, O Dono do Jogo me agradou e, a meu ver, deve agradar ao público que gosta de filmes baseados em histórias reais, principalmente por apresentar um ótimo pano de fundo, a Guerra Fria. Entretanto, para os entusiastas do esporte, pode ser mais interessante buscar outros filmes ou documentários relacionados ao tema.
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