Se você leu minha Opinião Sincera sobre Genera+ion da HBO, tenha em mente que tudo o que foi explanado poderia ser facilmente dito em relação a Sex Education. E ela consegue ser ainda mais ampla e representativa em relação à sexualidade. Se possível, a terceira temporada adentra ainda mais nesse universo complexo que gera inúmeros tabus.
Enquanto as duas temporadas anteriores adentram esse universo de forma irrestrita, a nova temporada apresenta uma faceta moralista e retrógrada existente em muitas pessoas acerca do dispositivo da sexualidade. Hope (Jemima Kirke), a nova diretora de Moordale, é a personagem principal para fazer esse antagonismo, que se torna ainda mais simbólico de assistir conhecendo a onda conservadora que atravessou os países nesses últimos anos.
Hope tem a função de mudar a ideia difundida a partir dos acontecimentos anteriores de que o Colégio Moordale é uma “escola do sexo”. Com isso, ela implementa na escola inúmeras regras de controle sobre os alunos, os quais agora deverão se comportar de maneira semelhante, apagando assim as suas individualidades.
É interessante a forma com que a criadora, Laurie Nunn, aborda como a escola pode afetar a individualidade do sujeito, uma vez que ela é uma das primeiras instituições de controle e repressão com que o sujeito se depara no decorrer da vida. Temos o caso de alguns personagens no desenvolver da temporada que sofrem com essa repressão, como o do personagem não-binário Cal (Dua Saleh) e de Lily (Tanya Reynolds), que estão entre os principais a sofrerem com as novas regras impostas.
Uma das coisas que mais aprecio em Sex Education é que, diferentemente de outras séries, que de modo completamente irreal abordam os adolescentes como reis do sexo, a série debruça-se sobre a adolescência e sua relação estreita com a sexualidade de forma real. Ela faz isso ao apresentar os adolescentes como meros sujeitos adentrando a fase sexual, ainda em um mapeamento inicial do que ela significa, não detentores de todo o conhecimento acerca do assunto. Isso possibilita que a sexualidade seja abordada com todos os seus possíveis desmembramentos.
Os debates no decorrer da temporada acerca do dispositivo sexualidade são feitos de forma natural, sanando de modo simplório dúvidas que poderíamos ter sobre as ramificações da sexualidade sem negar a sua complexidade. Além disso, esse debate feito é permeado, como deveria ser, de representatividade, não permanecendo na mesmice binária.
O desenvolvimento dos personagens segue essa mesma linha lógica, visto que ao aprofundá-los se constroem personalidades cada vez mais reais e, portanto, complexas. Nenhum personagem é desenvolvido apenas de modo superficial, apesar de alguns obviamente acabarem tendo mais destaque. As relações acontecem de forma entrelaçada, estando sempre em conversação e assim facilitando o desenvolvimento de todos os personagens, uma vez que não necessariamente eles precisam ter tempo de tela para encontrar-se presentes no momento.
Uma das relações que ampliaram meu entendimento sobre a não-binariedade foi o interesse amoroso entre Cal e Jackson (Kedar Williams-Stirling), tendo em vista os desdobramentos dessa relação por ele ser heterossexual – coisa que sequer tinha sido relacionada como uma problemática até a série abordar. Além disso, temos um grande crescimento de Adam (Connor Swindells) nessa temporada. Acompanhar suas amarras sendo soltas e a forma como ele consegue ir aos poucos abrindo seu coração, não apenas para o Eric (Ncuti Gatwa) como também para outras pessoas, deixou o meu coração acalentado.
Ruby (Mimi Keene) atravessa o mesmo momento de mudanças de Adam, ao se abrir para o desconhecido e permitir-se ser vulnerável. Inclusive, já tivemos uma demonstração da vulnerabilidade de ambos os personagens no fim da segunda temporada. Por isso, acho possível fazer um pequeno paralelo do desenvolvimento dos dois personagens.
Maeve e Otis
Os vinhos mais velhos são os mais apreciados, pois o gosto melhora com o tempo. Sinto em informar que isso não aconteceu com o casal aclamado Maeve (Emma Mackey) e Otis (Asa Butterfield). Colocá-los por muito tempo na adega ocasionou uma perda de sabor e a degustação não alcançou as expectativas geradas.
É nítido que a química existente entre eles se perdeu no tempo. Diria até que ambos dispõem de mais sintonia com seus outros pretendentes, Ruby e Isaac (George Robinson). Sinto que Maeve e Otis não ficaram respectivamente com Ruby e Isaac para manter o enredo construído ao decorrer das temporadas, perdendo a oportunidade de construir casais com dinâmicas muito interessantes.
No entanto, mesmo tendo em mente que esse acontecimento foi para manter o casal Maeve e Otis vivo, ele não acontece de qualquer jeito. A relação entre Otis e Ruby termina com ele tendo responsabilidade afetiva ao ser sincero sobre os sentimentos que nutria por ela, pois, apesar de gostar muito dela, não a amava. Então, diria que a série acerta até quando erra.
Sex Education, diferentemente de Maeve e Otis, consegue – como o vinho –, melhorar com o tempo. A terceira temporada amplia ainda mais a representatividade com a chegada de um personagem não-binário e desenvolve ainda mais seus personagens ao se aprofundar em suas individualidades e descobertas. É uma das séries mais representativas da Netflix e funciona até mesmo como uma educadora sobre a sexualidade, ao abordá-la de modo amplo.
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