How much control do we have over what we wish for?
How much control do we have over what we wish for?
How many decisions we take are rational?
How much is intentional?
Benthyalpelagic II: The Wish in Dreams
Quanto controle temos sobre o que desejamos?
Quanto controle temos sobre o que desejamos?
Quantas das decisões que tomamos são racionais?
Em quanto elas são intencionais?
Benthyalpelagic II: The Wish in Dreams
Pelagial é o sétimo álbum de estúdio da banda The Ocean Collective, um grupo alemão de Progressive Metal e Atmospheric/Sludge Metal formado em 2000. O álbum foi lançado em 2013 pela Metal Blade Records e conta com 11 músicas, uma duração total de 53:13 minutos. Ele também veio acompanhado com um CD 2 com todas as músicas numa versão instrumental.
Seguindo a proposta da Semana do Rock do Puxadinho, trago esse que é um dos álbuns conceituais mais incríveis que já ouvi. Pelagial é uma daquelas preciosidades que descobrimos quando jovens e só aprendemos a degustar com seu devido valor com a maturidade. Mas antes de falar dele em si, vamos conhecer a banda: The Ocean Collective foi fundado em Berlin pelo guitarrista Robin Staps. Originalmente, a ideia era ser um projeto que reunisse vários músicos, tendo uma formação mais maleável, porém a banda foi aos poucos se assentando e logo tiraram o “Collective” do nome. Em 2018 voltaram com a ideia original.
Uma coisa que chama a atenção no material que o coletivo cria é a profundidade das temáticas que eles abordam nos álbuns: divergências entre as ciências e a religião, modelo antropocêntrico de ciência, oceanografia, éons geológicos, filosofia e referências literárias. Tudo isso acompanhado de um peso e complexidade musical que vai agradar qualquer fã do Mastodon.
Vamos falar agora do Pelagial em si. Esse é um álbum conceitual que aborda o próprio oceano. “Zona pelágica” (do latim Pelagos, “mar aberto”) é o termo usado na Oceanografia e na Biologia para se referir à parte do oceano habitada por seres que não dependem do fundo marinho para sobreviver, logo são capazes de se locomover. Sendo assim, cada faixa do álbum vai avançando nas etapas do oceano, se adentrando nas profundezas e na escuridão. Entretanto, o álbum vai além disso: ele faz um profundo paralelo entre a escuridão do oceano com as profundezas da psique humana! Então, ao adentrar no fundo dos mares, a banda está também adentrando nas próprias profundezas do ser humano.
Comentarei faixa a faixa. O álbum é iniciado com Epipelagic (do grego Epi, “sobre”), que é o termo dado para a superfície até 100m de profundidade. Ela é suave, dando uma ideia de um mergulho tranquilo. E então já embala na segunda faixa, Mesopelagic: Into the Uncanny (do grego Mesos, que significa “meio”). Seu nome remete à zona pelágica localizada entre 200m e 1000m de profundidade. A letra comenta sobre o início dessa jornada em direção às profundezas de nós mesmos:
From this point on all we do
Is let ourselves sink down
Until the bottom, until we hit the ground.
Sinking towards the unknown inside of ourselves.
Towards me and towards you,
Towards the essence, towards truth.
Daqui em diante, tudo o que fazemos
É nos permitir afundar
Até o fundo, até chegar ao chão.
Afundando para o desconhecido dentro de nós.
Para dentro de mim e de você,
Para a essência, para a verdade.
Começam em seguida as três faixas Bathyalpelagic (Bathys significa “profundo”). Essa zona pelágica vai de 1000m até 4000m de profundidade. É fria, escura e possui uma pressão de 5800psi (aproximadamente 6 toneladas aplicadas a cada polegada de nosso corpo). As letras das 3 canções abordam sobre a capacidade humana de ter poder sobre seus comportamentos, conscientes e inconscientes. Será que temos realmente a capacidade de controlar o que desejamos? Quanto do que realizamos é racional? Quanto é intencional?
Chegamos então as faixas do Abyssopelagic. Esse lugar sombrio tem uma profundidade que chega até 7km. É uma faixa fria e desolada, e as trevas são a única coisa que nossa visão apresenta. É a região em que vivem os seres abissais, criaturas peculiares de anatomias bizarras. Nas duas músicas dessa parte, vemos sobre o sofrimento psíquico causado pelas angústias de que nós, seres neuróticos como aponta a teoria psicanalítica, vivemos em função.
E agora estamos na mais absoluta desolação. As profundezas da Zona Hadal são exclusivas das fossas marinas, podendo atingir 11km de profundidade. Sua pressão é como se existissem 1100 atmosferas nos esmagando. Nada sobrevive nesse local. A faixa Hadopelagic II: Let Them Believe (a I é instrumental) fala do processo de repressão e recalque. O sujeito joga para as profundezas de seu ser os desejos que não aceita em si, numa tentativa de eliminá-los, entretanto esses desejos sempre voltam a bater em nossas portas:
So let them live with the contradictions
Between what they call passion
And the constraints of our modern living
Which leave no space for the arational.
Então deixe que vivam com as contradições
Entre o que chamam de paixão
E as restrições da nossa vida moderna
Que não deixam espaço para o que não é racional.
As duas últimas faixas do Pelagial não são sobre zonas pelágicas, mas sobre tipos de seres que podemos encontrar ao longo da jornada até as profundezas. Os demersais são seres que possuem a habilidade de nadar, mas é uma habilidade rudimentar, então acabam tendo que viver colados no solo marinho, como arraias. O bentônico é o nome dado ao solo marinho, e é o termo usado para falar das criaturas que não possuem habilidade de nado, tendo que viver fixados na terra, como corais, algas, esponjas e alguns seres microscópicos.
Em Demersal: Cognitive Dissonance, essa representação possui uma conotação religiosa. Os homens temem o divino que louvam, um processo que gera uma dissonância cognitiva, ou seja, nossas ações não estão em conformidade com o que sentimos e pensamos. E finalizamos com Benthic: The Origin of our Wishes, onde encontramos os traumas e tudo aqui que foi jogado para baixo do tapete. Somos confrontados por nossas questões mais íntimas, a origem de todos nossos conflitos e, por tabela, a origem de nossos desejos:
This is what you have been hoping
And waiting for all your life.
But don’t have any illusions:
I will not forgive you.
And the worst thing is
That you won’t ever forgive yourself for this.
Isso era o que você esperava
E aguardava a vida toda.
Mas não se iluda:
Não vou te perdoar
E a pior parte é
Que você nunca vai se perdoar por isso.
O álbum Pelagial foi muito bem aceito pela crítica e pelo público. Suas notas na mídia especializada foram majoritariamente altas e as avaliações dos leitores da Metal Archives tem uma média de 95% de apreciação. Quanto à minha opinião pessoal, acho que nem preciso comentar muito. Ouvir Pelagial de forma mais atenta para poder escrever me fez perceber como não tinha apreciado essa obra, e essa banda, da forma correta ao longo dos anos. Vale a pena ficar atento ao The Ocean Collective e acompanhar o que estão produzindo, pois será um material de qualidade.
Mais sobre MÚSICA
5 documentários da música brasileira que você precisa ver
Sem bairrismo, podemos dizer que a música feita no Brasil está entre as melhores do mundo. O Brasil é uma …
Opinião Sincera | Sandy — Nós, VOZ, Eles 2 (2022)
Em paralelo a seu retorno aos palcos, Sandy também lança um novo projeto: a segunda edição de Nós, VOZ, Eles, …