Um filme original da Netflix, dirigido por Osmany Rodriguez e liberado em outubro de 2020, Vampiros x The Bronx tem uma história bem simples. Vampiros tentam invadir o condado do Bronx e matar seus moradores, que se reúnem para rivalizar e, então, defender sua moradia. Além dessa trama leve, o filme trata de assuntos complicados, mas sem perder o entretenimento.
Vampiros x The Bronx começa com o Miguel Martinez (Jaden Michael), conhecido na vizinhança como Prefeitinho, distribuindo panfletos de um evento beneficente para salvar a bodega do Tony. Enquanto isso, os comércios locais estão fechando e sendo substituídos por estabelecimentos “gourmetizados”. Por trás dessa onda de compra e venda, está a Murnau Properties, coligada com os vampiros que não tardam a dar as caras e deixam a conexão bem evidente. O processo é bem simples: a Murnau faz a proposta de compra do imóvel e, após o contrato de compra vai ser assinado, um vampiro ataca o dono do estabelecimento, que é dado como desaparecido ou como se tivesse recebido muito dinheiro e se mudado.
O Miguel acaba vendo uma pessoa do bairro sendo morta por um dos vampiros e sai correndo para falar com seus amigos, quando ocorre aquele clássico momento em que ninguém acredita no que ele diz. Mas, por fim, eles acabam confiando no Prefeitinho e comprando a ideia dele de se prepararem para lutar contra os vampiros. Essa preparação é bem legal, pois o filme não se preocupa em reescrever os vampiros. Eles usam o vampiro clássico, com todos os clichês, e eles assistem a Blade para se preparar na luta, o que é sensacional, pois se inspiram num cara preto. O resto do filme eu não vou contar para não dar spoilers. Essa é apenas uma introdução do que ocorre nos primeiros 15 minutos. Agora vamos aos assuntos por trás do enredo.
O Bronx é um bairro tipicamente não-branco que fica nos EUA, habitado por imigrantes legais e ilegais que têm um senso de comunidade muito aguçado. Como de costume, em comunidades não-brancas, eles são segregados social e politicamente e em um momento até falam “Ninguém vai ligar para o desaparecimento do Slim [personagem do filme]. Porque ele é do Bronx como nós.”. Também se assustam quando veem uma branca andando pelo bairro, tanto que é dito no filme que “aquela mulher branca é sinal de encrenca”, mostrando que eles não estão acostumados a receber atenção dos brancos e do estado, o que coaduna com tudo que vemos na vida real.
O fato de a Murnau aparecer e sair comprando e mudando o bairro é um exemplo de gentrificação dos espaços não-brancos. Gentrificação é quando alguma ou algumas empresas pegam uma ou várias áreas periféricas e começam a expulsar seus moradores com o objetivo de transformá-la em um local turístico ou comercial. Normalmente as periferias são locais de habitação de minorias como pretos, latinos, asiáticos, entre outros. Logo, esse é um processo no qual se usa do poder aquisitivo para transformar a vizinhança e torná-la inacessível a população que naturalmente se estabeleceu ali. Aqueles que não venderam inicialmente vão acabar vendendo em algum momento, pois o bairro vai ficar caro para as coisas básicas. Em linhas gerais, gentrificação é quase sempre de espaços não-brancos, está associada ao racismo estrutural e fortalece uma estrutura de classes sociais mais distantes e uma imobilização social.
Essas críticas sociais estão ali, permeiam o trabalho de um latino ao dirigir esse filme, mas elas não fazem com que fique difícil de ser compreendido. Em nenhum momento o entretenimento de um filme bem matinê com efeitos especiais simples é perdido. Dito isto, Vampiros x The Bronx é, para mim, uma obra incrível para ser vista e analisada em sua simplicidade, ao abordar assuntos de uma sociedade complexa e inferiorizada.
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