Há certos filmes que valem cada centavo pago em um caro ingresso de cinema. São do tipo que te deixam preso na cadeira, atento a cada frame, que te deixa tenso, roendo as unhas e torcendo para um gran finale espetacular. Não há descrição melhor para Ford vs Ferrari. Estrelado por Christian Bale e Matt Damon, o filme já é colocado como um dos candidatos para levar um Oscar. Mas será que é tudo isso mesmo?
A trama se passa nos anos 60, acompanhando a vida do lendário piloto texano e construtor de carros, Carrol Shelby (Matt Damon) e seu amigo piloto e engenheiro mecânico britânico, Ken Miles. Shelby foi o único piloto americano a ganhar a lendária competição ‘24 Horas de Le Mans’, mas devido a problemas cardíacos teve que se aposentar das pistas e focar seus esforços na sua empresa, a Shelby American, construtora de carros especiais. Com a ajuda de Ken Miles, conseguiu ganhar competições de renome e chamar a atenção da indústria. É aí que a Ford entra na jogada. Após uma humilhante e frustrada tentativa de comprar a Ferrari para tentar trazer para a marca o apelo jovem que precisava, graças ao advento de uma nova geração com poder de compra, a gigante americana decide construir um carro para competir com os italianos em Le Mans, que, apesar de ganharem a competição por 4 anos seguidos, estavam indo à falência graças aos grandes gastos demandados pela sua divisão automobilística. A Ford dá carta branca para Shelby construir um carro que derrote a Ferrari. É a partir daí que a trama se desenrola, mostrando o poderio do capital industrial americano contra a produção artesanal italiana.
Mas o que faz desse filme um possível candidato ao Oscar? Algumas coisas merecem destaque. Começando pela ótima atuação geral de todos os atores, com destaque para Christian Bale, que mais uma vez passa por uma transformação corporal para interpretar um personagem, além disso, ele consegue transmitir de forma magistral a paixão pelo automobilismo do piloto Ken Miles. É notável sua expressividade nas cenas de alta velocidade, e como reage ao receber o convite para pilotar o Ford GT40. Até mesmo o sotaque britânico é emulado muito bem, já que Miles é da cidade de Brighton, cidade inglesa com um sotaque bem puxado. Outra coisa que vale destacar é o ritmo do filme, que, apesar de longo (2h30min), te deixa atento o tempo todo, graças a um perfeito balanço entre cenas mais emocionais, como uma conversa entre Miles e o filho, e cenas de maior adrenalina, como um acidente que acontece alguns minutos depois. Tudo que é introduzido ao espectador tem uma razão, todos os elementos da trama têm um fechamento, não há pontas soltas, te obrigando a ficar atento a todos os detalhes.
Mas há um adendo: caso não seja muito íntimo do mundo do automobilismo, você vai conseguir se divertir e aproveitar o filme, mas com um pouco mais de esforço do que quem já tem certa familiaridade, pois, como falei, muitos elementos são introduzidos e, se você não tem certa compreensão prévia deles, pode ser difícil assimilar enquanto acompanha a trama. Isso foi notável, pois sou aficionado pelo mundo do automobilismo e já conhecia parcialmente a história e o contexto em que ela estava inserida, então para mim foi muito fácil compreender tudo, mas já amigos meus, que não tinham tanta familiaridade com o enredo, amaram o filme, mas após o término ficaram confusos com a história. Mas fica tranquilo, nada que um Google não resolva.
Outro ponto positivo do filme é que, ao pesquisar a história real, você verá que ele é muito fiel à realidade, com ótima atenção aos detalhes, tanto técnicos, quanto visuais, não só a fotografia é linda, como a ambientação é bem construída e os carros utilizados nas corridas são muito féis aos originais. Isso é muito positivo, não só pelos motivos óbvios, mas por se destacar diante de outros filmes do gênero que muitas vezes apelam pelo exagero na fantasia para tentar criar uma trama mais “pop” e que chame a atenção do público a partir do absurdo. O diretor James Mangold (mesmo diretor de ‘Logan’), não precisou utilizar desse tipo de artifício, construiu seu longa na emoção natural que as corridas carregam em si.
Posso estar errado, mas provavelmente ele é um apaixonado pelas pistas, pois só alguém que ama esse mundo poderia passar isso para o espectador. O universo que ele cria te faz se apaixonar também. O som do V8, a trilha sonora, o jogo de câmeras, tudo é perfeitamente construído para te hipnotizar e fazer imergir na trama. Ao sair do cinema, a vontade é de pegar o carro e procurar a pista mais próxima para dar algumas voltas (quem assistiu ‘Baby Driver’ vai entender do que estou falando). Com certeza as 24 Horas de Le Mans terá um boom de audiência em sua próxima edição.
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