Game of Thrones (2011–2019) foi um sucesso estrondoso, considerada por alguns — inclusive esta que vos escreve — como uma das melhores séries de todos os tempos, se não a melhor. Desde o seu fim, tivemos obras cinematográficas semelhantes, como A Roda do Tempo, no entanto é certo que os fãs de GoT ainda sentem falta de algo do universo criado por Martin. Essa falta promete ser suprida com o primeiro spin-off de Game of Thrones, chamado A Casa do Dragão (House of the Dragon). Com estreia marcada para o dia 21 de agosto, a produção será lançada semanalmente no HBO Max.
A Casa do Dragão é baseada no livro Fogo e Sangue (Volume 1) de George R.R. Martin. Lançado em 2018, ele se passa séculos antes dos eventos de As Crônicas de Gelo e Fogo e apresenta a construção da dinastia Targaryen em Westeros — para mais detalhes sobre o livro, leia a opinião sincera de Mamá.
Como esperado, o anúncio da estreia da série gerou grande comoção nas redes sociais, como o Twitter. Alguns levantamentos foram feitos acerca da ideia e, principalmente, da execução. “Ela será tudo aquilo que Game of Thrones foi um dia?”; “Devemos criar grandes expectativas ou fazer isso é decerto se decepcionar?”
Acredito que os dois caminhos são viáveis, mas não há como não criar grandes expectativas diante dos trailers lançados até o atual momento. Tudo indica que A Casa do Dragão vai ser grandiosa, e não parece que a HBO poupou investimentos para tal feito: cada episódio custou a ela US$ 20 milhões. Para efeito de comparação, cada episódio de Game of Thrones ao decorrer das oito temporadas custou, em média, cerca de US$ 6 milhões. Apenas se chegou aos dois dígitos na última temporada da série, em que alguns episódios chegaram a custar quase US$ 15 milhões.
Muito desse valor é decorrente da quantidade de dragões presentes na série — teremos cerca de 17 dragões, o que demanda um extenso trabalho de computação gráfica. Já é muito diferente dos três grandiosos dragões de Daenerys Targaryen em Game of Thrones. Dito isso, se as batalhas compostas por Daenerys e seus dragões já deixavam os espectadores deslumbrados, as guerras travadas em A Casa do Dragão prometem ser muito maiores.
Isso acontece porque, com a presença de tantos dragões, teremos o que Martin chama de dança dos dragões — batalhas de tirar o fôlego entre diferentes dragões, que irão ocorrer durante toda a temporada. Mas as grandes batalhas não vão permanecer apenas no céu: a série promete estender a guerra para o solo de maneira igualmente esplêndida.
Podemos também esperar uma maior liberdade criativa dos produtores, tendo em vista a forma de escrita do livro em que a série é baseada. É uma escrita elaborada de modo panorâmico, quase como um documento histórico, onde Martin não se atenta tanto aos detalhes quanto em As Crônicas de Gelo e Fogo.
Uma das maiores críticas a Game of Thrones são as exacerbadas cenas de sexo, realizadas até mesmo de forma isolada, sem importância alguma para a história. A Casa do Dragão, pelos relatos dos roteiristas e produtores, aprende com Game of Thrones e promete ter bem menos cenas de sexo.
Em entrevista ao Hollywood Reporter, o showrunner de A Casa do Dragão, Miguel Sapochnik, afirma:
“[Nossa abordagem] é cuidadosa, pensada e não nos esquivamos disso. Se alguma coisa, vamos jogar uma luz sobre esse aspecto. Não dá para ignorar a violência perpetrada contra as mulheres pelos homens, naquela época. Não é algo que deve ser minimizado e não deve ser glorificado.”
A produtora executiva e roteirista Sara Hess também deixa claro que A Casa do Dragão pretende se distanciar da forma que Game of Thrones abordou o sexo e a violência sexual.
“Eu gostaria de deixar claro que não exibimos violência sexual na série”, afirmou Hess. “Nós lidamos com um caso fora de cena, e mostramos o que acontece depois, bem como o impacto na vítima e na mãe do agressor. Eu acho que o que nossa série faz, e o que eu tenho orgulho que aconteça, é que focamos em como a violência contra mulheres é inerente a um sistema patriarcal.”
No entanto, apesar dessas afirmações, o ator Matt Smith, que dará vida ao personagem de Daemon Targaryen, aborda em entrevista a Rolling Stone, que acha que em A Casa do Dragão tem cenas de sexo demais durante essa primeira temporada.
“Você fica se perguntando: ‘Precisamos mesmo de outra cena de sexo?’. (…) Acho que o ponto é se perguntar o que estamos fazendo, se o ponto é representar bem os livros ou diluir os livros para representar os tempos atuais… Acho que o nosso trabalho é representar os livros com honestidade, como eles foram escritos.”
Portanto, resta a nós esperarmos os lançamentos semanais a partir do dia 21 de agosto para tirarmos nossas próprias conclusões acerca do assunto. Ademais, George deixou claro em um texto publicado em seu blog pessoal que haverá continuação da história abordada em Fogo e Sangue.
“O mundo de Westeros, o mundo de As Crônicas de Gelo e Fogo, é minha prioridade número um, e permanecerá assim até que a história seja contada. Mas Westeros tornou-se maior que Os Ventos do Inverno, ou mesmo As Crônicas de Gelo e Fogo. Além de Ventos, também preciso entregar o segundo volume da história do Arquimeistre Gyldayn, Fogo e Sangue. (Pensando em chamar aquele de Sangue e Fogo, ao invés de apenas F&S, Vol 2).”
Portanto, é certo que teremos bastante conteúdo para basear várias temporadas – se ele terminar, de fato, as histórias. Apesar de Fogo e Sangue ser apenas o volume 1 da história, como Martin explicita, o livro tem um final elaborado e conhecido para os leitores. Dessa forma, ao ser a base de toda a série A Casa do Dragão, não se é esperado um fim drástico e pouco aclamado como foi o de Game of Thrones.
Inclusive, em um texto publicado também em seu blog pessoal, o autor dos livros elogiou bastante a produção de A Casa do Dragão, deixando claro que conseguiram até mesmo em alguns pontos melhorar a história produzida por ele. Isso é especialmente importante tendo em vista a abordagem de Game of Thrones ao divergir do material base.
“Eu assisti a cortes brutos de 9 dos 10 episódios, e continuo impressionado”, escreve ele. “A atuação, a direção e a escrita são de primeira linha. E, para os fãs dos livros, esta é minha história. Há algumas mudanças em relação a Fogo e Sangue, mas acho que Ryan Condal e seus roteiristas fizeram boas escolhas. Até algumas melhorias.”
Portanto, acredito que podemos sim criar grandes expectativas sobre a série sem temermos ser decepcionados. A Casa do Dragão promete — e penso que vai conseguir — ser tão grandiosa quanto Game of Thrones, além de proporcionar aos fãs de Daenerys (como eu) a oportunidade de conhecer um pouco mais da história da famosa Casa Targaryen.
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