Bom dia, Verônica (2020) é a nova produção brasileira original Netflix. A série, composta por oito episódios, é baseada no livro homônimo dos escritores Raphael Montes e Ilana Casoy, que foi lançado originalmente em 2016 pela editora Darkside, especializada no gênero sombrio. Os dois autores também assinam o roteiro adaptado e a produção da série.
Você já deve ter ouvido o barulho ensurdecedor dos comentários a respeito dessa obra engenhosa, que fez a engrenagem da world wide web girar desenferrujada de novo. A série de suspense é assunto desde a sua estreia na plataforma, no início de outubro, por tratar de temas delicados como violência doméstica, investigação criminal e assassinato em série. Conteúdos super consumíveis, não acha?
Sinceramente, eu não sou de apostar, mas, se fosse apostar a minha novíssima nota de duzentos em algo, esse “algo” seria essa série. Vou explicar os motivos.
Verônica Torres (Tainá Müller) é escrivã da Polícia Civil numa delegacia de homicídios em São Paulo e presencia um suicídio em seu ambiente de trabalho logo no comecinho da série. Ávida por justiça, ela defende os direitos das mulheres, como uma boa millennial, e ao longo da série se vê investigando dois casos envolvendo violência contra a mulher e feminicídio. Mas eu não vou contar tudo porque perde a graça. Não que a série seja de comédia.
O elenco conta com nomes calejados, mas nunca obsoletos, como Camila Morgado, Eduardo Moscovis e Antônio Grassi, sempre prontos para dar o melhor de si, mesmo que esse melhor seja a pior face do personagem ― igualzinho à própria Verônica. No caso dela, os fantasmas do passado da família são a sua pior face. E por falar em pior, na minha análise minuciosa, o ponto fraco da série é a pressa com que os fatos se desenrolam e o tempo dos episódios. Vinte minutinhos a mais não fariam mal a ninguém.
E digo mais: com alguns tiros, dezenas de porradas e nenhuma bomba, a estreante brasileira na plataforma de streaming pede um motivo que explique o porquê de ela ter sido batizada com esse título. Falta a Verônica, literalmente, ouvir “bom dia, Verônica” todos os dias ao acordar. O que me faz lembrar que não se fazem mais textos como antigamente, onde o próprio personagem, na época do ápice da nossa teledramaturgia, fazia referência ao título da obra. Custava? Referenciar a si, pra mim, é sinal de autocuidado. É reciclagem “eco-teatral” de todos os espaços em branco do papel que o ator usa para decorar o texto. É puro marketing. É vestir a camisa.
Mas não importa. Bom dia, Verônica entrega perseguição policial, bastidores de investigação, legalização do uso da cannabis no intervalo do trabalho e consciência social para questões pertinentes. Coisas que nunca serão vistas no horário nobre da TV aberta – e está aí mais uma explicação de por que Bom dia, Verônica é uma produção apta ao seu stream imediato.
Num país cujo número de prisões em flagrante por atentados contra a mulher cresceu quase 51,4% entre fevereiro e março de 2020 só no estado de São Paulo, cidade onde se passa o enredo de Bom dia, Verônica, dado apontado após pesquisa realizada pelo Núcleo de Gênero do Ministério Público do Estado de São Paulo, encontrar alguém que te olhe nos olhos discretamente, como faz a Verônica, e te diga que isso é reparável e que há pessoas prontas para ajudar é essencial. E ela vai até o fim. Mas que esse não seja o fim das aventuras da nossa justiceira. Esperamos a segunda temporada o quanto antes porque precisamos de respostas às pontas soltas.
Agora uma curiosidade: a primeira edição do livro Bom dia, Verônica, lançada em 2016, é assinada pela autora “Andrea Killmore”. Mas na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2019 ela ganhou uma reedição, dessa vez revelando que Andrea Killmore era, na realidade, pseudônimo de Raphael Montes e Ilana Casoy. Incrível, não acha?
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