Cabras da Peste (2021) é o mais novo filme de comédia nacional produzido pela Netflix. O longa é dirigido por Vitor Brandt, que já esteve na direção de outras produções do gênero, como Copa de Elite (2014) e a série Vida de Estagiário (2013).
O filme é protagonizado por Edmilson Filho, que interpreta Bruceuillis, um policial do interior do Ceará que precisa ir para São Paulo atrás da cabra Celestina. A cabra é considerada um patrimônio da pequena cidade fictícia de Guaramobim e acaba sendo levada para São Paulo no caminhão de um traficante. Na capital paulista, ele vai contar com a ajuda do escrivão de polícia, Trindade (Matheus Nachtergaele), que nunca sai para trabalhos de campo, mas quando se arrisca acaba fazendo bobagem.
O filme bebe razoavelmente da comicidade regionalista de outras produções cearenses, como Cine Holliúdy (2012) e O Shaolim do Sertão (2016), mas se propõe mais a ser uma paródia de filmes policiais de comédia dos Estados Unidos, como Um Tira da Pesada (1984, 1987, 1994), A Hora do Rush (1998, 2001, 2007) e Bad Boys (1995, 2003, 2020). No entanto, Cabras da Peste falha em um ponto em que esses filmes costumam se destacar, principalmente das duas últimas séries, protagonizadas respectivamente por Jackie Chan e Chris Tucker, e Will Smith e Martin Lawrence.
Estou falando da relação entre os protagonistas e como as suas personalidades e funções se complementam nos filmes. Enquanto o Jackie Chan é o agente mais sério e bom de briga, o Chris Tucker acaba sendo o alívio cômico e o cara que entende um pouco mais sobre a malícia das ruas. A mesma coisa acontece entre Will Smith e Martin Lawrence. No entanto, na comédia policial à brasileira da Netflix, Edmilson Filho acaba aglutinando todas essas características, deixando muito pouco para o personagem de Matheus Nachtergaele — que, teoricamente, deveria ser o cérebro da dupla e a escada para as piadas de Bruceuillis, mas acaba não sendo nenhuma das duas coisas. Aliás, nunca vi o ator ser tão mal aproveitado em um filme e interpretando um personagem tão fraco. Até mesmo sua atuação acaba sendo prejudicada, talvez mais pelo roteiro e pelas limitações de seu personagem do que por culpa do próprio ator.
Outro fator que também me incomodou bastante foi como a direção não soube explorar o choque cultural entre um homem que sai do interior do Ceará e vai para uma cidade grande como São Paulo. Isso é apenas pincelado de uma maneira preguiçosa e logo depois esquecido. Parece até que ele nasceu e se criou na grande cidade, se virando tranquilamente e, mais uma vez, tirando qualquer função que seu companheiro poderia ter.
Ainda assim, o filme consegue ser engraçado, principalmente por conta do personagem interpretado por Edmilson Filho, que transmite um humor tipicamente brasileiro e protagoniza cenas de lutas muito bem coreografadas. Muito disso se deve ao fato de o ator ser praticante de taekwondo e já ter conquistado três títulos nacionais na modalidade.
A trilha sonora também é um ponto forte do longa. Ela nos proporciona um momento hilário de luta ao som de Me Chama que Eu Vou, de Sidney Magal, além de uma versão em forró de The Heat Is On, trilha de Um Tira da Pesada, cantada por Gaby Amarantos e com participação de Júnior Groovador.
Na verdade, toda a força do longa está em seus momentos de pura brasilidade, seja com os protagonistas interagindo com a motorista de Uber, interpretada por Evelyn Castro, seja nos momentos em que o foco das brincadeiras está na questão regionalista. No fim, Cabras da Peste é um filme que está acima de muitas comédias nacionais lançadas recentemente, mas muito abaixo de outras obras do gênero, como O Auto da Compadecida (2000), Lisbela e o Prisioneiro (2003) e Ó Paí, Ó (2007).
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