Ai, meu deus!
Talvez você já tenha ouvido falar de Arlindo, webcomic criada pela Luiza de Souza (mais conhecida na internet como @ilustralu) e publicada em 2019 e 2020 no Twitter. Talvez tenha visto a comoção que a pré-venda gerou nas redes sociais. E talvez você nunca tenha lido ou sequer ouvido falar de Arlindo. Se for esse o caso, é bom não perder mais tempo. Vale lembrar que a Pitty já comentou uma página da história:
Arlindo Júnior é um adolescente que mora no interior do Rio Grande do Norte nos anos 2000 e curte passar o tempo com suas melhores amigas, vendo filmes ou ouvindo os grandes sucessos de Pitty e Sandy & Junior. Como boa parte dos adolescentes brasileiros dos anos 2000, ouve suas músicas favoritas no intervalo da escola em um discman ou mp3 e usa as letras como subnicks no MSN. Sua irmã mais nova é tão fofa quanto é pentelha. Sua mãe é uma religiosa devota que trabalha fazendo docinhos de festa e ama os filhos mais que tudo — além de ser uma mulher bem arretada.
O garoto não se dá bem com o pai, que é a personalização da figura autoritária, machista e homofóbica que não se importa com o sofrimento que causa diariamente nos outros. O pai acha que Arlindo Júnior precisa “virar homem” e deixar de ser “um fresco”. As vizinhas fofoqueiras também acham isso. Afinal, já era sofrimento demais na vida do pobre do Arlindo ter uma irmã que gosta de mulheres — mas a irmã em questão, tia do protagonista, é um dos maiores exemplos de amor e apoio familiar que ele tem. Não é nem um pouco surpreendente a vontade que ele tem de ir embora dali.
Arlindo é uma história recheada de nostalgia e boas referências musicais, de cultura pop dos anos 2000 e também de cultura nordestina. O clima ao mesmo tempo acolhedor e opressor da cidade de interior é mostrado nos mínimos detalhes, ainda que às vezes sejam sutis. Em certos momentos, nos sentimos abraçados pelas páginas. Em outros, nós é que queremos abraçá-las. Faz sentido? Como em muitas boas histórias, você vai sorrir, chorar e torcer para ficar tudo bem.
O protagonista é precioso demais, então queremos protegê-lo sempre que acontece algo ruim. Mas ele também é parecido com boa parte do público leitor: um jovem que se sente diferente e excluído (no caso dele, por ser LGBT+), que só quer existir e fazer o seu melhor, que protege as pessoas que ama. Alguém que talvez se sentisse sufocado em uma cidade do interior nos anos 2000, mas que acredito que hoje esteja em seu melhor momento.
Arlindo também tem um estilo único em termos visuais, com paleta de cores que destaca tons vibrantes de amarelo e rosa. Luiza brinca com o formato “padrão” das páginas e dos quadros para contar a história exatamente do jeito que cada momento pede. É algo que acontece muito nos quadrinhos autorais, como os independentes mais recentes, e que não só funciona como também é muito bem-vindo. E eu gosto muito mesmo do traço da Luiza e do jeito que ela conta essa história.
Uma das melhores-piores referências da webcomic é incluir a música Não Precisa Mudar em uma declaração. Antes de ler Arlindo, eu até achei que essa música fosse um delírio coletivo e que só os heterossexuais de Aracaju gostavam dela, ou pelo menos gostaram durante um ano. Mas parece que o delírio coletivo também acometeu os heterossexuais do Rio Grande do Norte e de outros lugares! Me diverti muito lendo essa página e pensando “sim, isso é algo que certamente aconteceria na escola em 2007”. (Ok, na verdade, quando fui procurar o link do vídeo, vi que tinha muito mais visualizações do que eu esperava. Parece que essa música de fato fez esse sucesso todo e só eu não sabia. Mas vamos seguir.)
Foi ótimo acompanhar essa história semanalmente, mesmo tendo começado só quando o final já estava próximo, mas talvez seja ainda melhor poder (re)ler tudo de vez e em mãos. Arlindo será lançado em formato físico pela Editora Seguinte e está em pré-venda pelo Catarse até o dia 17 de fevereiro. A meta foi alcançada e ultrapassada em menos de 24 horas, então a editora e a autora já adicionaram vários brindes e sorteios para os apoiadores da campanha. Quando chegar a 300% da meta, todos os exemplares da campanha passarão a ser em capa dura.
A capa oficial da edição física já foi revelada e tem uma história bem interessante:
E você, já virou Arlinder e garantiu o seu?
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