Na sexta-feira (31), foi lançado Miss Americana, documentário original da Netflix sobre Taylor Swift. A direção ficou por conta de Lana Wilson, responsável também por After Tiller, de 2013, que fala sobre as consequências da morte de George Tiller, um dos poucos médicos que realizavam abortos nos EUA. As duas começaram a trabalhar juntas no projeto no final da era/turnê reputation, que também teve um show gravado e exibido na Netflix.
O documentário é curto, nem atinge a marca de 1h30, e recapitula vários momentos da ascensão — e derrocada — da Taylor como uma das maiores artistas do mundo. O lançamento do primeiro single, “Tim McGraw”, o momento em que Kanye West a interrompeu no VMA 2009, vários pedaços de todas suas turnês, os relacionamentos bem públicos, vários momentos compondo e gravando em estúdios, o câncer da mãe, tudo está lá. Para os fãs, é emocionante. Para quem talvez não conheça tão bem a história dela, traz contexto a tudo que se passa.
Durante a maior parte de sua carreira, especialmente por ter começado muito nova e na música country, Taylor não se pronunciou diretamente sobre política. Em certo ponto, nem sobre sua vida pessoal falava muito, exceto pelos gatos. Ela tentava fazer com que a música fosse o centro de tudo.
Como o próprio trailer mostra, a jornada dela era para ser uma pessoa boa. Para agradar as pessoas. Calar seus críticos. Se o álbum não foi bem-recebido, tudo bem, é só fazer um melhor. Ela parece namorar demais? Tudo bem, é só não namorar ninguém por um tempo. Se ela parece ter ganhado uns quilinhos, tudo bem, é só fazer mais uma dieta. Deve ser normal desmaiar de fraqueza no meio dos shows. E uma boa garota sorri, acena e não impõe suas opiniões às pessoas. Certo?
Certo. Foi exatamente assim, com o esforço para sempre se superar e calar seus críticos e uma bela ajuda da mídia que a adorava, que Taylor Swift chegou ao posto de queridinha da América e partiu para conquistar o mundo. Mas a virada de chave veio ao chegar lá, na tão aclamada quanto polêmica era 1989. De repente, ela era magra demais. Inacessível. Falsa.
Há aproximadamente um ano, o youtuber brasileiro Anderson Vieira fez um vídeo chamado “Os altos e baixos de Taylor Swift”, que hoje parece ainda mais certeiro do que já parecia quando foi lançado. Anderson explica no vídeo que a questão mais difícil e inédita da “queda” de Taylor é que os ataques a ela eram centrados em sua personalidade e integridade. A questão não era, como aconteceu com outras estrelas, se um álbum era bom ou ruim ou tinha vendido mal. A questão era “será que ela é uma boa pessoa?”, o que parece impossível de contornar. E é exatamente isso que Lana aborda com maestria e Taylor cita diretamente.
Ela desapareceu por um ano. Voltou a ter uma relação saudável com a comida. Passou a se dedicar mais à família. Começou um relacionamento, também mais saudável, com um cara que não faz a menor questão de aparecer em fotos. Enfrentou um desgastante julgamento por um assédio que havia sofrido em 2013. Na era seguinte, reputation, a música falaria por si e a turnê também.
Foi o recomeço que ela precisava, mas sua visão de mundo e sua paciência para certas coisas já não eram mais as mesmas. Já não era mais aceitável ficar calada ao ver seu país eleger Donald Trump, seus amigos LGBT+ não terem os mesmos direitos, ou ela mesma e outras mulheres não terem proteção em casos de estupro, assédio e perseguição. Em uma das cenas mais agoniantes do documentário, ela e sua mãe enfrentam o resto da equipe, incluindo o próprio pai, para tentar mostrar como é importante que ela se pronuncie.
“Only the Young”, música composta na época desses acontecimentos e lançada exclusivamente agora, para o documentário, aborda uma luta perdida de forma injusta e traz uma mensagem esperançosa de que os mais jovens podem ter a força de mudar algo. É justamente como se fosse o lado B de “Miss Americana & The Heartbreak Prince”, faixa do Lover em que ela mostra sua desilusão com os Estados Unidos, a imagem de queridinha da América e o momento político pelo qual o mundo está passando. A faixa que dá nome ao documentário, e que não poderia ser mais certeira.
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