Dirigido e roteirizado por Robert Eggers (conhecido por seu trabalho em A Bruxa), O Farol (The Lighthouse) é um filme de terror psicológico e atmosférico. Foi produzido e distribuído pela independente A24 em 2019.
O longa se passa no final do século XIX, onde dois homens estão trabalhando em um remoto farol na costa da Nova Inglaterra. A história se inicia quando o jovem identificado como Rapaz (Robert Pattinson) chega na ilhota para assumir o posto de auxiliar de serviços. Seu superior é o Senhor (Willem Dafoe), um velho marinheiro ranzinza. Ao longo da história, seus nomes são revelados e ambos lutam para tentar manter a sanidade.
Uma coisa que me ressoou muito quando assisti foi o contexto em que se passa: isolamento, tédio e solidão. Assisti ao filme durante um período de isolamento e, à medida que o filme avançava, mais e mais abalado eu ia ficando. Estaria meu isolamento me enlouquecendo como os personagens ali na tela? Apesar de não ser o que é comentado no primeiro plano, essa foi a trama central que identifiquei ali. Como numa fala do velho Senhor logo no início do filme: “O tédio torna os homens vilões. E a água avança rápido, Rapaz. Desaparece. O único remédio é uma bebida. Ela mantém os marinheiros felizes, ela mantém eles agradáveis, ela mantém eles calmos, ela mantém eles… Idiotas?”.
SPOILER (recomendo pular o parágrafo):
Um outro elemento que vi no filme foi o arquetípico conflito entre o pai e o filho. Posteriormente, é revelado que o nome do Senhor é Thomas Wake (Tom, como ele prefere) e o verdadeiro nome do Rapaz é Thomas Howard (Tommy, como ele fala). A história do enlouquecimento deles gira em torna da compulsão dos dois Thomas pelo farol: Tom proíbe Tommy de se aproximar da torre, que sempre se refere como se fosse sua esposa; Tommy vive na curiosidade de saber o que Tom faz todas as noites lá trancado (apesar de termos lampejos de cenas onde Tom está nu lá em cima, criando uma relação erotizada com o edifício). Isso posto, vemos um conflito entre “pai” e “filho” vivenciado num complexo edípico, onde o pai castra seu filho, lhe retirando o poder (a proibição de acesso ao farol, que já é um símbolo fálico por si só), e o ódio que vai se formando no filho que tenta acessar a “esposa” do pai. O final é esperado, e o nosso Édipo do século XIX assassina seu pai e vai de encontro a torre, onde ele enlouquece ao ver a luz do farol (ou se cega), assim como o Édipo clássico.
FIM DO SPOILER
Apesar de ter ficado muito mexido com o filme, O Farol é um filme que gostei muito. A A24 sempre me agrada no quesito terror: a atmosfera do filme é desoladora, as relações humanas são disfuncionais e o meta texto chama para profundas reflexões. Entretanto, sei que não é um filme que vai agradar a todas as audiências: ele é lento, a linguagem é densa e tem cenas que são muito complicadas de digerir para audiências menos habituadas.
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