Começo esse texto dizendo que sou um grande fã de Tarantino. Vejo na filmografia do diretor elementos de que gosto bastante, como os diálogos bem amarrados, a criação da tensão e a construção de personagens complexos. Isso tudo me deixou curioso quanto a quais são as fontes de que Tarantino bebe. Como é observável em seus 9 filmes, os faroestes são a grande inspiração do diretor. E, apesar de ser um filme mais recente, diferentemente dos clássicos em que Tarantino homenageia em suas obras, Os Indomáveis (3:10 to Yuma) foi a minha escolha para adentrar esse universo.
Mas por que começar por um filme recente de um gênero tão associado a clássicos e à era de ouro de Hollywood? A explicação é simples, meu caro leitor: queria observar como um diretor moderno abordava um gênero com pouquíssimas obras atuais. O fato de o diretor em questão ser o James Mangold, que dirigiu obras como Logan e Ford vs Ferrari (de que inclusive já falei aqui no Puxadinho), contribuiu bastante com a escolha.
O filme conta a história do fazendeiro Dan Evans, vivido por Christian Bale, que, ao enfrentar problemas financeiros, aceita ajudar a polícia a transportar para um trem de prisioneiros o famoso bandido e líder de quadrilha, Ben Wade, aqui interpretado por Russell Crowe. E é durante a jornada até a cidade de Yuma, de onde o trem parte às 15:10, que a trama se desenrola, já que o bando de Wade tenta a todo custo resgatá-lo.
Creio que os destaques do filme quanto a atuação sejam, primeiro, a interpretação do Ben Wade, um personagem complexo, sombrio e extremamente imprevisível. Ele tenta parecer alguém sem coração, mas durante todo filme vai dando pistas de que algo ainda toca suas emoções mostrando que em meio a tanta crueldade há ainda algum elemento de delicadeza. E o segundo destaque vai para Charlie Prince, que é o braço direito do Wade, interpretado por Ben Foster. Diferentemente do seu chefe, ele não apresenta o menor indicativo de qualquer remorso diante de suas ações. Um psicopata clássico. O ator conseguiu transparecer essa frieza, até em seu olhar.
Mas aí você talvez esteja se perguntando, “e o Christian Bale? Foi mal aqui?”. Não, né? Ele foi bem, afinal é o Christian Bale! Mas não foi nada excepcional se comparado aos outros filmes em que esteve presente. Os Indomáveis não é uma obra que você vai procurar por conta da uma atuação dele, mas acredito que sim pela dos outros que citei.
Essas ótimas interpretações caem numa trama que tem alguns clichês, mas não tanto pra ser mais do mesmo. Sabe aquela briga de gato e rato? Tem aqui. Aquele personagem que você logo observa que vai morrer, está presente também. Mas há algumas surpresas na trama. Quem você acha que não vai morrer talvez acabe morrendo. A briga de gato e rato talvez não seja o que você esperava.
Outro ponto que vale destacar é a ambientação do filme, que se atenta aos mínimos detalhes do faroeste americano. Um exemplo disso é que há algumas cenas de tiroteio, e creio que, se você já tenha assistido a algum filme com esse elemento, já tenha se perguntado “as balas não vão acabar?”. Aposto até que você chegou a contar o número de tiros só para garantir que não estava ficando louco. Mas em Os Indomáveis, além de as armas utilizadas serem bem fieis à sua época, os personagens são obrigados a todo momento a recarregá-las. Se uma escopeta tem 2 balas, o personagem vai atirar o seu limite, e terá que correr para recarregar ou acabar morto. Talvez a liberdade poética do filme esteja em quantas balas um indivíduo carrega consigo.
De forma geral, Os Indomáveis é uma ótima pedida se você gosta do gênero ou se está só procurando um bom filme na Netflix. Vale citar que o filme foi indicado ao Oscar por melhor trilha sonora original e melhor mixagem, então fique atento a isso também. E faça o seguinte exercício: quando for assistir, anote os personagens que você acha que vão morrer, os que teoricamente não vão morrer e como você acha que o filme vai terminar. Talvez você se surpreenda.
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