Em 2019, a AppleTV+ lançou a dramática e polêmica The Morning Show. A série viria a ser indicada em oito categorias do Emmy 2020, vencendo a categoria de Melhor Ator Coadjuvante em Série de Drama graças a Billy Crudup (segure esta informação, pois falarei dela adiante).
Criada por Jay Carson (House of Cards) e Kerry Ehrin (Bates Motel), The Morning Show (TMS) mostra o dia a dia de um programa de entretenimento e jornalismo matinal norte-americano líder de audiência, que precisa lidar com o escândalo nacional causado por uma denúncia de assédio. Protagonizada por Jennifer Aniston (Friends, Esposa de Mentirinha), Reese Witherspoon (Legalmente Loira, Big Little Lies) e Steve Carell (The Office, Pequena Miss Sunshine), The Morning Show aborda de forma pertinente a maneira exponencial como o assédio e suas consequências afetam as diferentes atmosferas da sociedade e inflamam mais pessoas do que se imagina — direta ou indiretamente.
Quando o crime cometido por Mitch Kessler (Carell) vem à tona, não resta outra opção a não ser o seu desligamento do programa, do qual esteve à frente, juntamente com sua parceira Alex Levy (Aniston), por mais de uma década. Para Alex, lidar com a saída repentina do seu melhor amigo de longa data é algo quase insuportável, assim como ceder ao fato de que ele possa ter, de fato, cometido tal crime. Egocêntrica, a personagem Alex é uma das mais complexas da série. Já Mitch, mesmo relutante quanto à culpa, não quer ser a ponta mais fraca da corda. Ele tem planos.
Graças ao destino, Bradley Jackson (Witherspoon), a repórter de uma emissora concorrente, surge para assumir o posto deixado por Mitch. Num jogo de poderes e pisões de calos, Bradley se vê avulsa numa gaiola cheia de predadores poderosos, que vão desde a sua nova colega de bancada até o CEO da sua nova emissora. Estar no meio da tempestade não era bem o plano, mas, uma vez no olho do furacão, só se sai de dentro dele vivo ou morto, e parece que Bradley está disposta a “matar” para sobreviver.
Ciente do conteúdo, The Morning Show é uma série que não resgata nenhuma saudade daqueles que já passaram profissionalmente por uma emissora de TV. Já para aqueles que têm curiosidade de saber como funciona um programa de televisão, os seus bastidores sórdidos e as suas falcatruas além dos âncoras — as noites mal dormidas, os litros de cafeína ingeridos para se manterem acordados, os falsos sorrisos nos corredores, as mudanças bruscas de pautas, as matérias convenientes e coniventes, enfim —, tudo que se tenta esconder na vida real a série faz questão de mostrar sem cerimônia. Me pergunto quem foi o corajoso que deixou isso ir ao ar. Com certeza deve ter deixado muitas emissoras de orelhas em pé.
Questões éticas e mercadológicas são como oxigênio nos dez primeiros episódios da primeira temporada de The Morning Show. Por vezes, os personagens devem escolher o caminho menos tortuoso e as consequências dessas escolhas podem respingar em pessoas que não chegam a sequer ser alvo.
O que mais me animou ao ver a potência do trio de protagonistas em ação foi saber que, mesmo sendo grandes atores de comédias norte-americanas, todos conseguiram sustentar a seriedade e dramatização requerida de forma perpendicular aos seus trabalhos anteriores e pelos quais são lembrados até hoje. Com exceção do Carell, que mostrou o seu lado sensível e cru antes dos seus colegas de trabalho em Querido Menino (2018), chocando principalmente a mim.
A emergente AppleTV+ tem investido em grandes roteiros, e, até o momento, não tem decepcionado (mas eu ainda não vi todas as suas produções, então talvez exista alguma bem ruim e eu só não tenha visto). As produções que consegui prestigiar são agradáveis e originais, dignas de uma boa concorrente da HBO, e só quem tem a ganhar com isso são os espectadores. O conceito de oferta e demanda sempre servindo “competitividades chiques”.
Lembra do vencedor do Emmy mencionado no primeiro parágrafo? Bem, pessoalmente, tenho os meus personagens favoritos em The Morning Show, mas, mesmo com um personagem revolucionário e de histórica importância para a trama, a vitória de Cory Ellison (Billy Crudup) como melhor ator coadjuvante me fez desacreditar em muitas certezas da vida. Mesmo ele concorrendo com colegas de elenco e com Kieran Culkin, o Roman Roy de Succession, a sua vitória não me satisfez. Dentro da própria série existem coadjuvantes mais cativantes e com mais tempo de tela, como Charles Black (ou Chip), vivido por Mark Duplass, um veterano de séries sobre assédio e masculinidade tóxica (O Escândalo).
Mas o pior ponto negativo em The Morning Show — e que eu acho que é o responsável pela subtração de uma estrela na minha avaliação final — é o fato de um dos episódios não possuir um alerta de gatilho em uma cena específica onde uma personagem sofre o abuso. Não basta apenas um ângulo de câmera desconexo ou um corte sugestivo de cena. Ao escolher reproduzir esse tipo de conteúdo sensível, é necessário ser responsável, afinal o abuso não começa no “ato consumado”. O longo caminho que ele percorre até tal ponto violento é tão cruel quanto o ato e merece um informe prévio.
Dito tudo isso, mas ainda achando pouco, The Morning Show conta com um final épico do primeiro capítulo dessa história que se agarra em cliffhangers provocativos. Uma série que promete dissertar ainda mais sobre esses dilemas na segunda temporada, que estreia no mês de setembro. Como entusiasta de bastidores, sejam eles quais forem, não vejo a hora de saber como cada personagem vai se sair na sua nova fase.
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