E se Divertida Mente fosse uma comédia romântica de amadurecimento? É a partir dessa analogia que podemos começar a explicar Yumi’s Cells.
Kim Yumi (Kim Go Eun) é uma mulher de trinta e poucos anos que trabalha em um escritório e leva uma vida tranquila. Quando conhecemos Yumi, conhecemos também suas “células”, personagens animadas em 3D e inspiradas em áreas do seu funcionamento, como razão, emoção, fome, orgulho, e amor. Elas conversam e brigam entre si, representando as necessidades básicas e conflitos internos de uma pessoa. Após um término traumático, no entanto, a célula do amor da protagonista estava em estado de coma e não parecia que iria se recuperar.
Um dia, um colega arranja um encontro às cegas para Yumi, e é assim que ela conhece Gu Wung (Ahn Bo Hyun), um desenvolvedor de jogos um pouco fechado e desligado. Surpreendentemente, eles se gostam e começam a sair e, depois, namorar. Desde o começo, também conhecemos as células de Wung e o que se passa na cabeça dele, o que ajuda a entender mais o personagem e se afeiçoar a ele.
E essa premissa mostra exatamente o que esperar do drama. Uma história bem cotidiana e fácil de se identificar, que explora o amadurecimento da protagonista de uma forma leve e divertida. O mesmo vale para Wung. Os pontos mais altos, até agora, vão dos momentos de mais vergonha alheia até os mais tristes e os mais fofos. A atuação é maravilhosa e os momentos intercalados de animação ajudam a criar um formato único. Mas algumas coisas no desenvolvimento podem pegar o espectador “desavisado” de surpresa. Explico.
Yumi’s Cells é, originalmente, um webtoon de grande sucesso, com mais de 500 capítulos, que foi publicado de 2015 a 2020. E a primeira temporada do drama busca adaptar apenas a primeira parte dele. Um possível leve spoiler que serve para calibrar as suas expectativas do que vai encontrar aqui é: esta não é bem a história de Yumi e Wung. Esta é a história de Yumi. Wung faz parte dela por um certo período de tempo. A ideia do diretor, grande fã do webtoon, é que seja algo como uma versão mais leve de Sex and the City, acompanhando o amadurecimento da protagonista e seus vários relacionamentos. É até por isso que já conhecemos Yoo Babi (Jinyoung, do GOT7), que será seu próximo namorado, nesta temporada.
O drama tem uma forma muito bonita e interessante de mostrar, através das células, algumas coisas cotidianas e outras específicas pelas quais Yumi e Wung passam. Já começa pelo fato de o término traumático ter deixado a célula do amor de Yumi em coma. Do lado de Wung, há uma célula comediante que não é muito bem vista pelo resto, mas que às vezes salva o dia.
É comum que tenhamos debates internos entre a razão e a emoção, entre o orgulho e o amor, entre a ambição e a preguiça, e Yumi’s Cells explora isso como se cada uma dessas facetas tivesse “vida própria” dentro da nossa cabeça. A razão e a emoção vivem discutindo, a emoção tenta meditar para ser menos explosiva e a fome é um bebezão que tira todas as outras células do sério. No caso de Yumi, a célula da emoção tem até um fantoche usado para fingir expressões faciais quando ela se sente especialmente incomodada, triste ou entediada. Quem nunca precisou forçar um sorriso?
A princípio, pode parecer decepcionante que Yumi’s Cells passe por todo o ciclo do começo ao término do relacionamento, já que nos afeiçoamos a Wung. Mas, assim como a própria Yumi e suas células, também nos decepcionamos com Wung. E acreditamos que exista uma vida depois de Wung, e uma vida depois de Yumi para Wung. É isso, afinal, que vamos ver na próxima temporada. Por mais que o final tradicionalmente feliz da comédia romântica não tenha acontecido, é preciso lembrar que esse ainda não é o fim da história — e que deixar para trás algo que não nos faz mais bem também é uma coisa boa. Então a graça acaba sendo justamente essa: acompanhar todas as fases e a evolução de Yumi.
Curiosamente, mesmo com o formato diferente que mistura elementos de animação 3D e personifica conceitos abstratos, esse é um dos dramas mais realistas que já vi, mas sem ser deprimente. Ele mostra que às vezes as coisas podem não dar certo mesmo quando nos importamos com a pessoa, ou que podemos machucar alguém quando tentamos fazer justamente o contrário. E ver uma protagonista passar por vários relacionamentos sem ser retratada como um “fracasso” ou “sem valor” já seria refrescante para os padrões ocidentais, então é muito mais para os padrões coreanos. Yumi é só, assim como tantos de nós, mais uma pessoa nesse eterno processo de amadurecimento, que vive errando na tentativa de acertar e de ser feliz. Wung também. Mas homens têm o direito de ser assim com mais frequência.
A primeira temporada foi exibida entre 17 de setembro e 30 de outubro de 2021 na tvN. Os 14 episódios de 70 minutos estão disponíveis no Brasil, com legendas, no Viki. A segunda temporada já foi confirmada e tudo indica que deve estrear lá por maio de 2022.
Yumi’s Cells já me chamou atenção e conquistou de cara, mas eu não sabia nada sobre o webtoon. Quando descobri como seria, fiquei com um pouco de medo: tudo poderia ser executado de uma forma péssima e estragar o drama. Mas isso não aconteceu. Embora não seja perfeito, ele acabou sendo uma das melhores surpresas de 2021 e até me deixou ansiosa para uma próxima temporada, o que não acontecia há muito tempo com série nenhuma exceto This is Us. Espero que as próximas partes dessa história mantenham ou elevem o nível.
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